O filho pródigo
- Coisas do Alto
- 6 de mar. de 2021
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No evangelho de hoje Jesus nos conta a parábola do filho pródigo. Façamos neste dia uma profunda experiência com o amor e a misericórdia do Pai a partir da Palavra de Deus para nós.
Jesus nos relata que um homem possuía dois filhos, sendo que o mais jovem lhe pediu a sua parte da herança. Ele se foi para uma terra distante e gastou tudo o que possuía com uma vida permeada de devassidão.
Talvez muitos de nós podemos nos enxergar nesta primeira parte da parábola. Pode ser que você, na sua história, não tenha vivido "grandes pecados", mas certamente todos nós, em menor ou maior grau, passamos por momentos de rebeldia para com Deus, e talvez isso ainda aconteça hoje. Quantas vezes não caímos na tentação de trilhar o nosso próprio caminho? Nos afastamos de Deus e do seu plano de amor para nós apenas porque desejamos viver nossas experiências, concretizar nossos sonhos, trilharmos os caminhos que vamos traçando para nós mesmos. Quando menos percebemos nos distanciamos de Deus, tudo pela necessidade de suprir a nossa vontade, o nosso desejo de fazer aquilo que acho ser o melhor para mim.
É muito fácil se desviar do caminho de Deus. Quando caímos em si já estamos em terras longínquas, já saímos da casa do Pai.
Mas existe a outra realidade, um pouco mais parecida com a realidade da parábola. Muitas vezes, por conta das seduções do mundo, dos prazeres do mundo, deixamos a casa do Pai e partimos para trilhar um caminho desconhecido. Quantos não abandonam a fé porque foram convencidos que há uma vida mais "emocionante", longe do olhar de Deus. Quantos jovens, e talvez você que agora lê este texto, abandonaram a Igreja porque o mundo lhes disse "esse negócio de Igreja é ultrapassado". Quantos desses se perderam em uma vida cheia de "novas experiências" que apenas roubaram a sua dignidade? Drogas, bebidas, sexo, depravações, roubos, violências, enfim, tudo em busca de saciar um vazio que somente Deus pode saciar.
Quando chegamos em situações como essa passamos a nos submeter a qualquer coisa, como aquele jovem da parábola.
Jesus continua dizendo que aquele jovem começou a passar privações e por isso foi buscar emprego com um homem daquela região que o mandou cuidar dos seus porcos. O jovem queria matar a fome com a lavagem que aqueles animais comiam, mas nem isso lhe era permitido.
Vejamos que Deus nos dá um banquete, mas nós preferimos a lavagem do mundo Queremos saciar a nossa fome, a nossa sede de Deus, o nosso desejo de ser amado com esta "comida", a lavagem dos porcos. Quando perdemos a nossa dignidade de filhos de Deus só nos resta suprir as nossas reais necessidades com a lavagem que o demônio nos oferece. O nosso coração anseia por Deus, deseja o amor de Deus, necessita do banquete que Ele tem preparado para nós, mas o mundo e seus prazeres nos cegam e passamos a nos convencer que aquele resto de comida é o suficiente para nos sustentar, passamos a ser prisioneiros, ficamos como aquele jovem, escravos. E essa é a principal meta do inimigo, nos tornar escravos.
Deus nos criou livres, nos criou para uma vida plena, para partilharmos da Sua alegria, mas nos deixamos escravizar, aceitamos apenas as migalhas que caem da mesa do banquete. Não é este o sonho de Deus para mim, não é este o sonho de Deus pra você.
Mas aquele jovem, quando chega ao fundo do posso, cai em si e faz a seguinte reflexão: "quantos empregados do meu pai tem pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar meu pai e dizer-lhe, 'pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado seu filho. Trata-me como um dos teus empregados" (Lc 15, 17).
Aqui percebemos que aquele jovem reconheceu a vida imunda em que estava e lembrou-se da casa do Pai. Lembrou-se que até os empregados do seu pai eram tratados com dignidade. Foi então que decidiu voltar.
É essencial ter humildade para reconhecer-se necessitado de Deus. Nós também precisamos ter essa atitude do filho pródigo, deixar de lado todo orgulho, pois muitas vezes nós compreendemos que não estamos no caminho que Deus trilhou para nós, temos consciência de que estamos vivendo uma vida miserável, que estamos escravos do pecado, mas o orgulho não nos deixa "dar o braço a torcer", a nossa autossuficiência nos diz "não, eu dou conta de viver assim, não preciso de Deus, posso cuidar da minha vida sozinho, não preciso ir para a Igreja". É fácil perceber que até aqui o demônio tenta nos ludibriar para permanecermos nesta vida.
É preciso coragem! É preciso humildade para reconhecer-se necessitado de Deus. É preciso humildade para voltar para a casa de Deus, partir rumo a casa do Pai, mas para isso será necessário desvencilhar-se de muitas coisas, é preciso determinação para caminhar, para aproximar-se novamente de Deus.
Jesus continua a parábola dizendo que o Pai, ao ver ao longe o filho voltando, correu ao seu encontro, o abraçou, o beijou, deu a ele novas vestes, uma sandália nova e colocou um novo anel em seu dedo, matou um novilho e fez uma grande festa, "pois este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi reencontrado" (Lc 15, 24).
Deus resgata a dignidade de filho daquele jovem e Ele deseja fazer o mesmo conosco. Quando nos colocarmos em uma atitude de voltar para a casa do Pai, Ele mesmo é que vem ao nosso encontro, pois nos aguarda ansiosamente. Ele não nos julga, mas aceita o nosso coração arrependido, resgata a nossa dignidade, nos livra da escravidão do pecado, nos dá nova vestes e nos faz sentar à sua mesa onde não comeremos as migalhas nem a lavagem dos porcos, mas saciaremos nossa fome e sede de Deus com o banquete da vida, o banquete de amor que Ele nos oferece.
Que possamos fazer esta experiência com o amor de Deus, este Deus que nos espera ansiosamente, que quer nos abraçar, nos resgatar, nos elevar em dignidade.





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