O zelo pela casa de Deus

Celebramos hoje o Terceiro Domingo da Quaresma, cada dia que passa ficamos mais próximos a grande festa da Páscoa. O que precisamos refletir é: como está o nosso coração? Temos perseverado em nossos objetivos nesta quaresma? Temos crescido na intimidade com Deus?

No evangelho de hoje vemos uma cena, a princípio, inusitada. Jesus entra no templo, na casa de Deus, e expulsa dali os vendedores e vendilhões com um chicote de cordas. Derrubou as mesas e o dinheiro dos cambistas e mandou retirar dali todos os animais: pombas, ovelhas e bois.

Hoje iremos refletir apenas este primeiro trecho do evangelho, pois possui uma mensagem muito importante para nós: como temos cuidado do nosso templo? Temos zelo pela casa de Deus? Quando falamos do templo de Deus, da casa de Deus, falamos acerca de duas dimensões: o templo de Deus, que é a Igreja e o templo de Deus, o nosso corpo.

A Igreja, templo de Deus

Quando falamos do templo de Deus falamos da nossa Igreja, da nossa comunidade, do espaço físico onde nos reunimos para celebrar, para ouvir a palavra de Deus, para recebermos o sacramento e a fé. Como temos cuidado deste templo? Vejamos que Jesus tem um zelo tão grande por este templo que chega a ser consumido por ele, tanto que quando os discípulos viram aquela cena se lembraram daquilo que estava escrito: "o zelo por tua casa me devorará" (Jo 2, 17).

O templo é lugar de encontro com Deus e naquele tempo a casa de Deus tinha se transformado em um lugar de comércio, de negócios. Ali havia a exaltação ao "deus dinheiro e não ao Deus da vida, do amor e da misericórdia. A casa de Deus é negligenciada e desprezada por aqueles que deveriam cuidar dela.

O zelo de Jesus expulsa dali tudo aquilo que não é do Pai, tudo aquilo que é enganoso e que faz da religião uma oportunidade de exploração comercial para os seus próprios interesses.

É interessante como hoje, ainda encontramos tantas pessoas que se utilizam da fé das pessoas para ganhar dinheiro, que pregam uma Teologia da Prosperidade para se enriquecer cada vez mais. Aqui não estou falando apenas de algumas denominações protestantes, mas também de igrejas e comunidades católicas que mais exploram o comércio do que oferecem um lugar de encontro com Deus.

E nós, o que buscamos na casa de Deus? O que fazemos lá? Vamos ali para nos encontrarmos com Deus ou estamos transformando a nossa relação com Ele em relações de brigas, conflitos interesses pessoais, políticos e comerciais?

Sendo mais claro: quando você faz uma peregrinação até o Aparecida do Norte, por exemplo, qual é o seu objetivo? Encontrar-se com Deus ou passear nas "lojinhas" após "bater perna" no santuário?

Nosso corpo, Templo de Deus

Quando falamos em templo de Deus podemos falar também do nosso corpo, da nossa alma. Nós somos templos de Deus, em nós habita a Santíssima Trindade, somos como "sacrários vivos" onde habita o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Você acredita nisso? Você crê que em você está verdadeiramente a presença de Deus? Se você ainda não tem essa certeza concreta eu te convido hoje a fazer este ato de fé dizendo "eu creio que Tu, Senhor, habitas em mim, eu sou templo vivo de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo fazem morada em mim".

Se somos templos de Deus precisamos cuidar para que esta casa seja digna de Deus. Precisamos dar a Jesus a liberdade e a autoridade para que expulse do nosso interior todos os "vendilhões e comerciantes" que ocupam e maculam esta casa. Ou seja, precisamos nos desvencilhar de todas as coisas que ocupam o lugar de Deus em nossa vida. O que você tem acumulado no seu interior? Pecados? Orgulho? Vaidades? Desesperanças? Tristeza? Ódio? Vícios? Sensualidades? Comportamentos? Ciúmes? Inveja? Preguiça? Raiva? Ira? Impaciências? Veja quantas coisas podem estar ocupando este templo de Deus! É preciso permitir que o Senhor lance para fora todas essas quinquilharias que maculam, que destróem, que trazem desordem dentro de nós.

A primeira leitura nos revela que Deus tem ciúmes de nós: "pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento" (Ex 20, 5). Ele nos deseja por inteiro, não nos divide com "outros deuses". E quantos outros deuses nós criamos para nós! O deus do consumismo, o deus do materialismo, o deus do hedonismo, o deus do dinheiro e da riqueza, o deus do comodismo, o deus das minhas necessidades..... isso quando não nos colocamos como o centro de todas as coisas, nos tornamos o deus de nós mesmos, ou criamos a imagem desfocada de Deus, um deus conforme as minhas necessidades e desejos, um deus que não me pede conversão ou mudança de vida, um deus que nos dá somente as alegrias do mundo, um deus que não nos pede para passar pela porta estreita. Ora, como diz São Paulo na segunda leitura de hoje: "nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos" (1Cor 1, 23).

Pregamos e acreditamos no Cristo que nos diz para tomarmos a nossa cruz, a cada dia, e segui-lo, o mesmo Cristo que nos disse que iria para o céu a fim de preparar a nossa morada. Eu creio nisso! E você?

Permita-se hoje ser tomado pelo Senhor, permita que Ele expulse do seu coração tudo aquilo que não deveria estar ali, tudo aquilo que macula a casa de Deus. Te convido hoje a esta reflexão e a esta oração! O que você tem guardado no seu coração? O que existe dentro deste templo que precisa ser lançado para fora? E permita-se, a partir de um momento de oração, que o Senhor te liberte, que o Senhor expulse todos os vendilhões e cambistas, a fim de que este templo seja um templo digno para que o Rei possa aí reinar e habitar.