O pobre Lázaro
- Coisas do Alto
- 4 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Refletimos no evangelho de hoje a história do mau rico e do pobre Lázaro.
O evangelho tem início dizendo que "havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte" (Lc 16,19). Vemos aqui a descrição de alguém que possuía uma vida de luxo e de muita fartura, pois o rico usava roupas finas e, todos os dias, tomava suas refeições com muita abundância.
Continua o texto dizendo que "um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto por úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico" (Lc 16, 20-22). Percebemos que, na porta da casa do rico, vivia Lázaro, alguém que desejava aplacar sua fome com as migalhas que caíam da mesa do rico.
O que podemos perceber com esse relato de Jesus? Qual a mensagem que este evangelho nos passa hoje?
É visível que existe uma desigualdade muito grande entre estes dois personagens. Enquanto o rico se farta de seus bens com abundância e, porque não, com certo desperdício, o pobre buscava suas migalhas. Talvez aquilo que sobra na mesa de um, falte no prato de outrem, talvez aquilo que acumula no guarda-roupa de um fosse essencial para aquecer aquele que vive na rua.
É impossível não fazermos esta reflexão, o evangelho é muito claro, é duro, mas é real! Não há como separarmos a nossa vivência de fé da prática das boas obras, da vivência da misericórdia para com os outros. Tanto é verdade que, na sequência do Evangelho vemos que Lázaro foi levado pelos anjos para o seio de Abraão, ou seja, recebeu o prêmio da vida eterna. O mesmo não podemos dizer daquele homem rico, que foi sepultado para a morte e a condenação eterna.
Isso não significa que todo pobre tem a salvação garantida e que todo rico já possui um destino traçado ao inferno. Não é a nossa condição social que nos diz para onde vamos após a morte. Aquele "mau rico", como nos diz o evangelho, não olhava para os lados, nem para cima. Seus olhos estavam fixos apenas em si mesmo. Sua segurança, sua razão de viver, todas as suas ações pautavam-se apenas em sua riqueza, no seu bem estar, no seu comodismo, nas suas necessidades e desejos, enfim, era alguém egoísta e individualista, insensível às necessidades dos demais, vivia apenas para saciar seus próprios prazeres, vivia em uma bolha, não olhava o mundo ao seu redor. Por isso Jesus o chama de "mau rico".
Aquele homem não olhava para os lados, por isso não enxergava os pobres e os necessitados, também não olhava para cima, porque se achava autosuficiente, totalmente independente, enfim, não precisava de Deus.
Se Jesus nos fala deste "mau rico"podemos afirmar que também existam "bons ricos", por isso dissemos acima que a salvação não depende tanto da minha condição social. O problema não é a riqueza material que possuo, mas o que eu faço com ela, o que eu faço por ela e como eu me comporto diante dela.
Hoje somos chamados a sairmos de nós mesmos e olharmos para aqueles que estão ao nosso redor, e não só isso, Jesus ainda nos convida a fazermos esta reflexão: como eu lido com as minhas "riquezas", com as minhas necessidades, com os meus apegos?
Quantas vezes Jesus se aproxima de nós "vestido" de tantos Lázaros que encontramos em cada esquina? Quais foram as obras de caridade que você já conseguiu realizar nesta quaresma? Será que aquilo que está sobrando para mim, aquilo que eu estou desperdiçando, será que isso não está faltando para alguém?
Não se trata de vivermos uma fé "socialista", "libertária", se trata de transcendência, de sair de si, de traduzir a fé em vida, de sair do nosso comodismo, do nosso "mundinho", da nossa bolha e enxergar que precisamos ir ao encontro do outro, precisamos ser para o outro expressão da providência de Deus. Não temos o direito de não nos preocupar com o Cristo que passa à nossa porta. É preciso lembrar que a caridade também é uma obrigação cristã, que existe uma Doutrina Social da Igreja.
Neste tempo de pandemia essa desigualdade fica ainda mais clara. Quantas pessoas nas ruas, quantos desempregados, quantas famílias que não conseguem colocar comida em suas mesas. Ao mesmo tempo, quantas pessoas nas praias, em suas casas de campo, em seus apartamentos beira-mar.
E em nossas casas? Ser[a que não há nada que esteja sobrando? Se acumulando? Você já olhou o seu guarda-roupa? Será que aquela roupa ou agasalho que você nunca mais usou não seria de grande valor para alguém que passa frio na calçada?
Sozinhos não iremos mudar o mundo, e nem podemos nos cobrar por isso, porém nossas simples e pequenas ações podem fazer a diferença na vida de alguém.
Que tal, hoje ou amanhã, fazermos um ato de caridade, seja partilhando aquilo que nos sobra com alguém que precisa, seja oferecendo um prato de comida àquele que nos pede? Pense nisso!
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