Deus permite, mas protege!
- Allan Dionisio
- 9 de fev.
- 4 min de leitura
Inicio essa reflexão dizendo algo que todos nós já sabemos: Deus nos ama, e não só isso, Ele deseja o melhor para nós, nos guarda debaixo de Suas asas, nos protege, guia nossos passos, Ele cuida de nós. Quantas vezes ouvimos essa verdade em pregações, momentos de oração, homilias ou mesmo lemos algo semelhante em um livro ou em um texto cristão? Tenho certeza de que foram inúmeras vezes! Mas se isso é mesmo verdade, porque então passamos por situações difíceis? Perdas, desemprego, enfermidades, dificuldades financeiras, abandono? Por quê existe a pobreza, a violência, a dor, a morte, enfim, porque sofremos?
Certamente não existe uma resposta exata para todos esses questionamentos, muitas vezes presenciamos pessoas boas, santas, que têm suas vidas ceifadas precocemente por conta de uma enfermidade ou uma tragédia. Por quê Deus, que é tão bom, permite que tais coisas aconteçam? Afinal, Ele é o Deus Todo-Poderoso, aquele que governa, que ama e protege Seus filhos.
Se não há intimidade com Deus, tais situações podem levar a nossa fé à questionamentos, mas se cultivamos cotidianamente essa relação com Ele, esses acontecimentos se tornam oportunidades de experiência profunda com Seu amor, pois compreendemos que Deus sempre quer nos ensinar algo com tudo aquilo que vivenciamos em nossa caminhada.
A história de Jó
A história de Jó, no Antigo Testamento, nos revela que aquele homem “era íntegro e reto, temia a Deus e mantinha-se afastado do mal” (Jó 1, 1), era rico, possuía muitos bens, tinha muitos filhos, enfim, havia prosperidade. Jó foi provado, perdeu tudo que tinha, inclusive seus filhos, adoeceu, mas se manteve firme em na fé. Jó experimentou o amor de Deus em todas essas situações, tinha consciência de que nada lhe pertencia, tudo foi-lhe dado por Deus. Diante de tamanha provação reconhece o seu nada e o tudo de Deus em sua vida: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1, 21). Após todas as provações pelas quais Jó passou Deus o restabeleceu dando-lhe o dobro do que possuía antes em bens, além de filhos, “Jó viveu ainda cento e quarenta e quatro anos e conheceu até a quarta geração dos filhos de seus filhos” (Jó 42, 16).
A história de Jó nos ensina que Deus permite, mas protege. O Senhor permite situações em nossas vidas, mas Ele nos protege, Ele nos ama e nós precisamos, assim como Jó, manter firme a nossa fé, na certeza de que tudo provém d’Aquele que governa todas as coisas, o Todo-Poderoso, o Pantokrator, o Rei, o nosso Deus, que nos ama até o ciúmes e por isso permite que o sofrimento nos alcance para que possamos aprender, através da dor, aquilo que Ele quer nos ensinar: nós pertencemos a Ele!
Ele fere para depois nos curar!
O amor de Deus por nós e tão grande, tão intenso, tão ciumento que, por conta desse amor, desse zelo, desse cuidado, Ele nos tira aquilo que tínhamos para que nos voltemos para Ele, “pois Ele fere e cuida” (Jó, 5, 18). Quantas vezes os bens, as pessoas, a condição social, o emprego, ou até mesmo a coordenação de um serviço eclesial nos afastam de Deus? Diante de tamanho amor o Senhor retira de nós tudo isso, não porque deseja nos ver no sofrimento ou na dificuldade, mas para nos proteger de nós mesmos, a fim de que nenhum dos Seus se perca. Ele retira de mim o emprego que me leva a viver a autossuficiência, a vaidade para que eu possa me voltar para Ele, perceber que aquele emprego é dom de Deus, assim a palavra de Deus cumpre a sua missão: Ele me fere, me faz passar pela dor do sofrimento para me curar, para me resgatar para que me levar a Sua presença, a Sua soberania em minha vida. Ele retira de mim os bens que eu possuo, para que eu perceba que a relação que tenho com as coisas criadas precisam me levar a dar glória a Deus, para que eu seja educado no meu relacionamento com os bens, para que eles me levem a encontrar a Deus e não apenas saciar o meu desejo de ter, de possuir, me afastando do Criador, ou seja, em todas essas situações o Senhor me protege para que eu não me perca.
Quantas vezes vivenciamos a experiência de Jó em nossas vidas! Deus tira tudo o que temos, todos os nossos méritos, as nossas riquezas, os nossos apegos, as nossas vaidades, para que possamos nos voltar para Ele, para que tenhamos um coração inteiro d’Ele. O Senhor fere e depois cura o nosso coração para que seja livre e ancorado apenas n’Ele, e então Ele nos restitui aquilo que perdemos e nos dá muito mais, pois Ele é sempre bom.
Contemplar a ação de Deus no cotidiano
É preciso aprender a contemplar o Senhor em todas as situações, extraindo de tudo o que vivemos a bondade de Deus, somente com esse olhar iremos viver os sofrimentos como experiência do amor e do carinho de Deus por nós:
“Contempla o Senhor por trás de cada acontecimento, de cada circunstância, e assim saberás extrair de tudo o que sucede mais amor de Deus, e mais desejos de correspondência, porque Ele nos espera sempre, e nos oferece a possibilidade de cumprirmos continuamente esse propósito” (São Josemaria Escrivá)
Quando vivemos as pequenas coisas do dia a dia como oportunidades de encontro com Deus, tudo se revela como expressão do cuidado de d’Ele por nós, passamos a perceber a pedagogia do Criador que se revela em cada situação, em cada acontecimento, por mais simples ou por mais doloroso que seja, Ele nos molda, Ele se revela, se derrama em amor, amor que protege, que corrige e nos auxilia a dar passos no caminho da maturidade e da santidade.
Se passamos a enxergar as provações dessa maneira, o que só é possível quando há intimidade com o Senhor, nosso coração se enche de gratidão a Deus, temos plena certeza de que as lutas que travamos e os sofrimentos pelos quais passamos são manifestações da bondade de Deus, que deseja nos formar e nos atrair a Ele, O soberano de nossas vidas.
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