Carta a mim mesmo, aos 40 anos...
- Allan Dionisio
- 6 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de jul.
“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos um coração sábio.”
Salmo 90,12
Ei, você.
Esse que completou 40 anos e começou a olhar a vida com outros olhos. Esse que sente o tempo passar mais rápido, que carrega no corpo alguns sinais da caminhada, e na alma uma coleção de histórias, nem todas terminadas, nem todas vitoriosas.
Hoje eu quero conversar contigo. Sem cobranças, sem julgamentos. Sei que você anda cansado. Existe uma fadiga que não vem só do corpo, mas do peso acumulado por anos tentando ser forte, tentando acertar, tentando se manter de pé.
A meia-idade chega como um sussurro que incomoda. Uma espécie de "fechamento para balanço": o que deu certo? O que ficou para trás? Onde foi parar aquele brilho da juventude que acreditava em infinitas possibilidades?
E aí aparecem os medos. Medo do tempo perdido, da morte que, embora distante, já deixou de ser uma ideia abstrata. Medo de não ter feito o suficiente, de não ter amado como devia, de não ter sido aquilo que, lá atrás, você sonhava ser. Medo de que os fracassos tenham pesado mais que as vitórias.
Sim, há frustrações! E algumas doem mais que outras, algumas continuam abertas, outras foram cicatrizadas com lágrimas escondidas. Mas, escute: isso não define você.
Você tentou. Amou o quanto pode, trabalhou com dignidade, construiu vínculos, aprendeu a cair e a levantar. Sustentou pessoas, guardou segredos, lutou suas batalhas em silêncio. Nem todos vão entender o que você enfrentou. Mas Deus sabe. E isso basta!
Talvez agora seja tempo de acolher. Tempo de se acolher. De parar de exigir perfeição de si mesmo e começar a abraçar sua história, com falhas, curvas, imperfeições. Talvez você não tenha chegado onde planejou, mas chegou a um lugar mais importante: onde você est'á agora!
Aos 40, você ainda tem chão, ainda pode recomeçar, ainda pode amar mais profundamente, ouvir mais atentamente, servir com mais humildade, ainda pode fazer as pazes consigo e com Deus. Porque há um tipo de paz que só vem com o tempo. E há uma sabedoria que só vem com as perdas.
Quando a morte vier — e um dia virá — que ela te encontre em paz. Reconciliado. Com um coração que se perdoou, que se abriu à graça, que não endureceu com o tempo. Que ela te encontre cheio de vida, mesmo se o corpo já estiver cansado.
Mas hoje… hoje é dia de viver.
Com carinho,
Você.
Nota do autor
Escrevi esta carta num daqueles dias em que a gente se sente sem cor. A meia-idade nos confronta com a verdade da vida, dos limites, da morte. Mas também nos aproxima da humildade, da maturidade e da graça. Que esta carta seja um abrigo para quem, como eu, às vezes se vê cansado do caminho, mas ainda querendo continuar.


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